TDPM — Transtorno Disfórico Pré-Menstrual

Bia
11 min readDec 28, 2023

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Eu levei muito tempo para pensar se eu escreveria ou não esse texto. Acontece que ele acaba sendo muito pessoal. Porém, dentro de tudo que eu li e pesquisei sobre TDPM, as coisas que eu achei caiam em 3 categorias, reportagens genéricas sobre o assunto, relatos de casos muito extremados (sem críticas, apenas pessoas que de fato estão num grau muito avançado do transtorno), ou textos muito razos sobre o tema.

Pensei que, se o google for bonitinho e colocar essas palavras-chave nas buscas de forma relevante, talvez eu possa ajudar alguém a não ter que cutucar tantos lugares durante anos para chegar onde eu cheguei. Talvez, seja um corta caminhos.

Então, vamos.
O que é a TDPM?
A TDPM é uma forma extremada da TPM, que ocorre em algumas mulheres, não se sabe exatamente o por quê. Eu vou dizer que eu já devo ter ido em cerca de 6 a 7 ginecologistas, endócrinos, psiquiatras e afins, e nenhum possuia a resposta da exata razão de ser desse problema. O que eu escutei e li muito é que simplesmente algumas mulheres possuem uma sensibilidade mais alta em relação as alterações hormonais naturais do ciclo menstrual do que outras. Algumas mulheres, nem TPM sentem. Outras chegam nesse lugar e, dentro desse lugar, ainda sim existem casos e casos com gravidades distintas.

Como é feito o diagnóstico?
Vou dizer pra vocês que meu diagnóstico foi meio por volta de 2017, foi acertado, mas ainda eram terras muito desconhecidas, achei poucas coisas sobre, não conhecia pessoalmente uma mulher que tivesse, e tive muita sorte, pois minha psiquiatra e meu ginecologista eram muito bons. Minha psiquiatra estudou para me tratar. (Ai, Carol, você foi mara!). Várias mulheres são diagnosticadas de forma errônea com outros transtornos, como bipolaridade e afins… pode ser que eles venham em conjunto? Sim. Cada pessoa é uma pessoa.

Mas no caso aqui o principal é que os sintomas podem começar por volta de 15 a 10 dias antes do início do ciclo (antes da menstruação) e finalizar logo que a menstruação desce, com no máximo um ou dois dias de prazo. Ou seja, é cíclico e essa é grande diferenciação. Por isso, se você suspeita que tenha TDPM, é interessante, aliás, necessário, que você vá lá e anote direitinho quando sua menstruação desceu, os dias, a intensidade, como o seu ciclo se comporta, (se é de 28, 29, 30, etc), se é regular… É nesse lugar que você vai entender se realmente está nesse grupo.

Se os sintomas persistirem de forma cíclica e cessarem após o início do ciclo, pode ser bem provável que você tenha sim TDPM. Mas posso ter outros transtornos associados? Lógico. E uma coisa vai puxando a outra, é aquela carretinha: se todo mês você tem uma queda de humor enorme, tristeza, ansiedade, pensamentos auto-depreciativos, dificuldade de “funcionar” normalmente na vida, entre vários outros problemas, é complicado manter a saúde mental em dia, né? Uma coisa acaba encaixando na outra, mas mesmo tendo outras dificuldades nesse sentido, como um transtorno de ansiedade associado, eu sempre sei quando estou passando pela fase da TDPM porque meus sintomas pioram significativamente.

E os sintomas, quais são?
Nossa. Tem uma lista. Mas eles se dividem também em dois âmbitos, no fisíco e no emocional e podem ser diferentes para cada mulher. Podem ter mulheres que ficam muito depressivas, com pensamentos auto-depreciativos, fadíga, dor muscular, e por aí vai. Outras podem ter ideação suicída. Ta vendo como é grande a escala? Mas a TDPM, ela precisa realmente atrapalhar sua vida. Te deixar incapacitada.

No início, eu tinha crises de dor muito fortes, não podia me olhar que eu já começava a chorar, falava que tudo estava errado na minha vida, e várias vezes disse que eu não era “nada”, que fazia tudo errado. Não me sentia digna de nada, que eu era um peso. Por volta de 5 ou 6 meses pós diagnóstico, eu ligava recorrentemente (mensalmente), nos piores dias, para a minha terapeuta ou psiquiatra, ou para minha irmã, chorando copiosamente como se não houvesse nenhuma luz no fim do túnel, mas nunca tive ideação suicída e isso é importante para o que vamos ver lá embaixo.

Colando do site do Draúzio Varela:

A lista de sintomas que podem estar presentes no transtorno é extensa e inclui sintomas físicos como inchaço, dor nas mamas, aumento do volume abdominal, dor de cabeça, cansaço; e sintomas psíquicos, como humor deprimido, ansiedade, irritabilidade, sensação de nervos à flor da pele e até ideação suicida. Também é comum ter falta de energia, diminuição do interesse pelas atividades cotidianas, aumento dos conflitos pessoais, alterações no sono (ter insônia ou dormir demais) e alterações de apetite (como comer muito ou ter vontade de alimentos específicos, normalmente mais calóricos).

“Tudo isso são sintomas que podem acontecer no transtorno, porém, eles têm uma intensidade muito elevada [em comparação com a síndrome pré-menstrual] e acabam interferindo na vida de uma forma bastante negativa. Pode atrapalhar não só as questões pessoais, mas também o trabalho”, afirma a dra. Lígia Santos, ginecologista e obstetra.

Mas e as tratativas, Bia? Essa meleca tem tratamento?
Bom, sim, e podem ser vários.
Um dos mais simples, por exemplo, se você puder, é tomar a pílula de hormônio composto, o anti-concepcional que a gente já conhece e emendar cartela. Assim você corta totalmente o ciclo, e sem ciclo, sem TDPM, certo? É um começo.

Mas você pode cair na bagunça que eu (e depois conheci outras mulheres com a mesma dificuldade) caí. A tal da enxaqueca, especificamente a enxaqueca com aura. A pílula de hormônio composto geralmente possui estrogênio e progesterona sintéticos, e o estrogênio é uma bomba pra quem tem enxaqueca ou enxaqueca com aura, ele pode aumentar CONSIDERAVELMENTE o risco de AVC, tromboses, e afins. Essa pílula não pode ser usada com mulheres com enxaqueca, MESMO. Mesmo que você não tenha TDPM, se tem enxaqueca e especialmente com aura, o estrogênio é um inimigo enorme.

Eu tenho enxaqueca, e agora?
1.
Alguns anti-depressivos já tem tido a comprovação de auxiliarem e atuarem no tratamento desse processo, e a bula de alguns inclusive teve a inclusão de estarem aptos a tratar o transtorno disfórico pré-menstrual.

2. A pílula anti-concepcional de progesterona pode ser usada em mulheres que tem enxaqueca, ajudando a regular os hormônios e diminuindo ou cessando os sintomas.

3. O DIU também é conhecido por alterar ou auxiliar na regulação hormonal, novamente, também pode ser um tratamento válido.

4. Implanon
O tratamento que eu optei e ainda não tive resultados pois estou na fase de adaptação é o IMPLANON. O implante hormonal. Ele é colocado no braço de forma sub-cutânea, e libera progesterona sintética continuadamente durante 3 anos. É por ele lá e esquecer. Como todas as outras coisas que envolvem hormônios, não existe um resultado específico esperado. Tem mulheres que simplesmente param de menstruar, outras tem escapes constantes, cada organismo reage de um jeito.

Mas ele é hoje a forma anti-contraceptiva com menor riscos de falha, mas o preço ainda é meio salgadinho. Apesar que é um implante que dura 3 anos, após os 3 anos você pode retirar e colocar outro imediatamente e não ficar naquela preocupação de toda a pílula todo dia. Mas ele tamém é conhecido por diminuir as cólicas menstruais e a tpm.

5. Alimentação, exercícios físicos e qualidade de vida.
Essa tratativa aqui eu acho que serve para qualquer doença ou síndrome que seja crônica (ou pra vida no geral). Não tem muito o que estender aqui, mas não se recomenda (ao contrário do que as pessoas falam) que se coma chocolate no período, alimentos gordurosos e afins. A Yoga é bastante indicada também, logo junto de meditações como as de mindfulness (atenção plena); além de exercitar o corpo, exercita a mente. Te dá mais sustentação para passar pelos períodos difíceis e permanecer no aqui e no agora, sem oscilar tanto.

6. Terapia
Essa serve pra tudo, né? Mas minha linda-diva-maravilhosa psicóloga conseguiu naqueles meses ali que eu ligava chorando sempre, fazer um trabalho comigo de: “vai passar”. Saber que vai passar é como se fosse criar dentro de você uma relisiência no sentido que isso não é para sempre, embora, às vezes, pareça ser. Passa. Segura no chifre do boi e aguenta um pouquinho que passa. Isso é uma tratativa que considero importante, enquanto não consigo equilibrar totalmente isso, minha meta é nunca parar, até que esse problema se resolva, mas existe esse recurso e ele é crucial.

7. Indução da menopausa
É possível quimicamente induzir o processo da menopausa, mas esse tratamento é utilizado em casos muito difíceis, nos quais existe ideação suicída, por exemplo, e a mulher nesse período representa um perigo para sí mesma. Aí, talvez seja necessário um tratamento mais agressivo, porém, com a menopausa induzida vem também os sintomas da menopausa que precisam ser tratados, e em algumas leituras eu vi relatos de que eventualmente os medicamentos que induzem a menopausa começam a parar de fazer efeito. É complexo, e precisa ser estudado caso a caso direitinho para saber o que fazer de fato.

Diquinhas da Bia:
Bia, são só esses os tratamentos? Muito provavelmente não. Talvez, inclusive, pode ser um combinado. É importante entender que somos pessoas e nossos organismos são muito complexos, então, talvez você tenha que passar por aquela fase “teste” até achar o que funciona para você. Eu já sei, por exemplo, que anti-depressivos não fazem cosquinha na minha TDPM e tenho que recorrer nesse período aos benzodiazepinicos (Fronta, Rivotril, etc) para conseguir parar com um pouco de paz. Não é o ideal, mas é o que temos para hoje. Também tenho muita insônia na TDPM, o anti-depressivo me ajuda nesse aspecto, me “capota”. E dormir, mesmo que não seja um sono restaurador, é importante.

Nesse meio tempo eu fui aprendendo coisas. Essas coisas são legais, essas coisas me deram um senso de empoderamento.

A primeira foi reconhecer que isso existe, é um problema e não é uma bobeirinha qualquer e não é minha culpa… não é “coisa da minha cabeça”, que isso afeta muito a minha vida e que eu preciso cuidar e ser respeitada por isso. Minha família me ajuda demais da conta, quando eles se deram conta do quanto isso era complicado, eles se posicionaram junto comigo e até mesmo em momentos que eu bagunço as coisas emocionalmente, me sinto muito mal, eles me lembram que estou nesse período e que vai passar, para eu me centrar de novo.

Ou seja, converse com as pessoas próximas a você, explique, e não deva satisfações. É isso tudo mesmo sim, é difícil mesmo e não é “bobeirinha de mulher”. Quem não quiser te apoiar ou ficar ao seu lado, provavelmente não serviria para outras coisas também.

O tal do autoconhecimento. Lembra que mencionei mais cedo sobre conhecer seu ciclo, anotar, anotar os sintomas, ir se percebendo, sentindo você mesma? Isso é muito importante. Tem alguns aplicativos que ajudam a fazer o controle das datas do ciclo e eu passei a usar religiosamente. Mas, uma coisa que eu fiz que foi muito boa, foi desligar. Tirar as notificações e não ficar presa nisso. Me conhecendo mais, eu anoto e deixo lá. Quando eu vejo que os sintomas estão batendo na porta, eu abro o aplicativo e vou ver se estou no período pré-menstrual mesmo.

Imagina se eu ficar recebendo notificação falando “OLHA, VOCÊ ENTROU NA TPM EIN, ENTROU, VIU?”. Nossa mente também tem poder, então eu uso como objeto de confirmação. Podem acontecer outras coisas que te deixem mal, e aí você pode ir lá confirmar, sim, ok, estou nesse período. Ou, não, não estou. O que está me incomodando então?

Nessa jornada de autoconhecimento, eu busquei muita coisa. Massagens terapêuticas, já são aí 8 anos de terapia/análise, tenho psiquiatra de confiança, clinico geral de confiança, ginecologista de confiança. Passei processos espirituais, constelação familiar, thetahealing, apometria, reiki, mesa radiônica, cirurgias espirituais (sem corte viu gente, socorro!), casas de espiritismo kardecista, umbanda… me conectar com a espiritualidade em si fez uma grande diferença na minha vida, mas você pode, por exemplo, caso não seja sua praia, iniciar o processo de meditação.

O “mais aceito” e inclusive indicado por médicos no ocidente é o de mindfulness. Estar no estado de atenção plena é um treinamento. É tipo musculação. A primeira vez que você tentar meditar, você vai falar “esse negócio não é pra mim”, seus pensamentos vão estar tão acelerados que você vai querer sair da meditação assim que entrou. Mas, persista. Sério. Nos colocar no momento presente, sem o peso do passado e a ansiedade do futuro ajuda muito a manter aquele pedacinho de você um pouco mais centrado pra te ajudar no processo. Tem muitos aplicativos de meditações guiadas, frequências musicais que ajudam a acalmar, muita coisa para ser descoberta nesse mundo.

E no meio das crises, um S.O.S. de uma meditação guiada, por exemplo, pode ajudar a aliviar um pouco as coisas. Eu recomendo de cara você procurar no youtube a meditação “Relaxamento, Lojong”. Lojong é o app, mas essa meditação está disponível gratuitamente no youtube, faça e depois veja como você se sente (se não dormir durante rs). E dormir é bom, viu?

A coisa que mais tem vindo para mim nesse processo é que a gente, como mulher apanha, e muitas vezes apanha de si mesma. É tanta cobrança, dupla-jornada, coisas que nós mesmas achamos que temos que conseguir, fazer, coisas que temos que ser, que acabamos entrando num modo onde ser mulher significa sofrer um pouquinho. E não pode ser assim gente. Então, eu tenho sido ensinada a, ao invéz de ficar com raiva de passar isso todo mês, mudar a forma como eu me sinto. Amar meu útero, meus ovários, meu feminino, querendo ou não ter filhos, pois isso é só uma parcela do que é ser mulher.

Tenho aprendido a tentar ser mais gentil comigo mesma, a me amar mais, cuidar mais de mim, entender que não preciso resolver problemas alheios e me por como prioridade. Isso faz parte da minha história, mas tem muita mulher mãe de todo mundo por aí, e o meu feminino é meu, desequilibrado, ou bagunçado nesse momento, mas é meu e eu amo ele, como ele é e como ele está. A minha busca é para que a gente cresça juntos, e nos conectarmos cada dia mais ao SIM.

Ser mulher é se permitir, é dar lugar a leveza, a beleza, a sensualidade, a todas as coisas que só nós mesmas entendemos o que são. É cuidar da sua aparência, não pelos outros, mas por você, sabe? Se livrar de estigmas e viver livre… o bebê quando nasce, ele está indo para a vida… e nós também precisamos permanecer na vida. Mas, felizes. Estamos curando a ancestralidade feminina que veio antes de nós, que tanto sofreu para ter direitos que eram básicos, ou para serem enxergadas com sua devida importância. Não mais e não menos que os homens, em patamares de igualdade. Ai Bia, isso é discurso feminista. Não, não.

O homem também tem os problemas dele, também é criticado em certos momentos, também sofre preconceitos que por vezes ele não pode dizer. Se duas mulheres se abraçam, ok. Se dois homens se abraçam… “ah, estranho isso aí, né?”. Tem muito que a gente precisa ressignificar enquanto sociedade. Tem muito que a gente precisa olhar dentro de si para que possa ser mais fácil estar aqui com mais leveza.

Se quiser, procure sobre o sagrado feminino e o sagrado masculino. Eu já falei pra todos os meus guias que não é da minha personalidade dançar embaixo da lua cheia para achar minha deusa interior, mas vai que é da sua? Mas o sagrado feminino, é reconhecer que o feminino é sagrado e tem que ser respeitado, pelos outros mas principalmente por você.
(Detalhe, nada disso tem a ver com orientação sexual, identidade de gênero, etc. Isso é da vivência afetiva e sexual de cada pessoa, estamos falando de algo muito mais profundo, da nossa conexão com nosso próprio corpo e dos papéis que nos colocamos na vida).

É isso. Eu nem sei como eu “pari” esse texto, pareceu um sopro no ouvido. Mas, se você tiver caído aqui e estiver meio em desespero, espero que possa ter te ajudado de alguma forma. Como eu sempre falo: sempre tem caminho!

Salve!

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