Muitas vezes na vida nós acreditamos que o que precisamos para ficarmos bem é alcançar equilíbrio. Então, vamos tentando manter esse equilíbrio, tentado levar paz e sabedoria para os lugares onde sentimos a falta, tentando tampar aqueles buraquinhos para que a água que fica alí dentro — nossa energia vital — não escorra por conta de problemas e dificuldades que possam surgir.
E tudo bem… até certo ponto. Em algum momento em toda essa história, nós nos encontramos tão amarrados e tão presos nos padrões antigos que queremos sutentar, que não entendemos que já não basta mais ir lá tampar o buraquinho. É preciso desconstruir a parede inteira mesmo, dar marretadas e fazer uma nova. Mais forte, mais encaixada, mais “potente”.
E isso só pode acontecer porque ao longo do caminho vamos adquirindo recursos para aumentar nossa capacidade de lidar com as dores e as dificuldades da vida. Este, supostamente, é o caminho.
Tem um trecho de um livro do Oscar Wilde que vai mais ou menos assim:
“A gente sempre destrói aquilo que mais ama
em campo aberto, ou numa emboscada;
alguns com a leveza do carinho
outros com a dureza da palavra;
os covardes destroem com um beijo
os valentes destroem com a espada.
Mas a gente sempre destrói aquilo que mais ama.”
Eu costumava concordar muito com isso. Que estávamos sempre fadados a destruir a nossa própria felicidade, até encontrarmos dentro de nós a permissão de estar vivos, seguindo com os amores que trocamos.
Mas, não mais. Destruir a parede, “marretar” ela, não é fazer isso com ódio. É fazer acreditando que você pode construir algo melhor, e continuar amando tudo aquilo que você ama, simplesmente de uma forma diferente, mais saudável, mais leve, mais livre.
É lógico que algumas coisas que não podem ficar vão se perder nesse caminho, mas é um perder mais amadurecido. É como ver a areia escorrendo das suas mãos e aos poucos aceitar que ela se foi. Como a virada da ampulheta. É mesma areia, mas os tempos são outros.
